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Doutor Rubens, o cirurgião-dentista de dois continentes

Doutor Rubens, o cirurgião-dentista de dois continentes
Doutor Rubens (centro) com o colega Gilvado Soares e o presidente do CRO-RN, Gláucio Morais e Sillva

Nascido no Rio de Janeiro, o cirurgião-dentista Rubens Barros de Azevedo – no dia 18 de setembro completa 80 anos bem vividos –  é um profissional com atuação em dois continentes, que teve o privilégio de trabalhar aqui no Brasil (Americano) e em Portugal (Europa), onde fez muitos amigos.

Aposentado da profissão de cirurgião-dentista, ele continua ativo, contribuindo com várias entidades, como Academia Norte-Riograndense de Odontologia, Sindicato dos Odontologistas e Conselho Regional de Odontologia, além de escrever livros que ajudam as pessoas a viverem melhor, ainda dá palestras e comanda com maestria há 13 anos o Sarau do CRO-RN, que ele batizou de "Sarauterapia".

O incansável doutor Rubens ainda arruma tempo para se engajar em causas nobres, como a dos fissurados do Rio Grande do Norte. Ele é um dos fundadores da APAFIS/RN, a Associação dos Pais e Amigos dos Fissurados do RN, aonde participa ativamente, dando palestras e participando de reuniões da entidade.

A Odontologia o doutor Rubens escolheu como profissão por amor, tendo sido professor e clinicou no Rio de Janeiro e em Portugal, onde conheceu a portuguesa Malu, hoje sua esposa. O casal fixou residência em Natal em 1999.

O doutor Rubens ensina que “seja qual for a situação vivida, poderia ser pior e tudo passa”.

Aos jovens alunos dos cursos de Odontologia, na experiência de seus 50 anos de dentista, o doutor Rubens, como é tratado carinhosamente, gosta de deixar uma mensagem: “Estudantes, evoluam sempre científica e tecnologicamente, mas não esqueçam o humanismo!”

Acompanhe abaixo a entrevista que o doutor Rubens concedeu ao colega e amigo Dr. Givaldo Soares.

Como foi a sua infância com sua família?

Rubens- Foi uma infância muito difícil! Meus pais, muito pobres, oito irmãos, sendo eu o mais velho, desde cedo comecei a ajudar no sustento da família - em torno dos sete anos de idade.

Como você fez opção pela Odontologia?

Rubens - Foi com meu padrinho, Dr. Antônio Ferreira Brito, cirurgião-dentista, que tive o primeiro contato com a profissão. Ele atendia no consultório em sua própria casa, no bairro do Engenho Novo, no Rio de Janeiro, inclusive fazia suas próprias próteses, pois tinha um pequeno laboratório. Comecei a ajudá-lo na montagem de peças dentárias, daí o início do meu interesse pela profissão, a qual sempre amei e procurei servir da melhor maneira possível.

Você fez carreira universitária no Rio de Janeiro.  Qual a disciplina que você ensinava?

Rubens- Cinco anos depois de graduado (1967) pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, fui convidado para lecionar na Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo (FONF), a 130 km do Rio de Janeiro. Fiz parte da Equipe de Cirurgia I (Oral Menor), logo na implantação da Clínica, para o 5º Período. Depois lecionei também Anestesiologia e, mais tarde, Clínica Integrada, para o 8º Período. Fui convidado por 3 Diretores da FONF, sucessivamente, para fazer parte da Diretoria como Coordenador de Ensino e Pesquisa. Foram 16 anos de Magistério. Hoje, a FONF é Campus Avançado da UFF.

Quando você deixou o Rio de Janeiro e fez opção para trabalhar em Portugal?

Rubens - Passei a residir em Nova Friburgo, exercia a Endodontia em consultório próprio e trabalhava no antigo INAMPS (hoje INSS),, onde entrei por concurso, e depois me aposentei. Recebia muitos convites de ex-colegas de turma, e até mesmo de ex-alunos, para trabalhar em Portugal. Com a aposentadoria, pedi demissão da FONF e mudei para Portugal, onde fiquei durante 08 anos. Lá trabalhei em muitas cidades, começando pela região do Algarve (sul) e não parei mais.

Você é apaixonado pela cultura erudita e popular. Participou de algumas ações culturais, na terra de Camões e Fernando Pessoa?

Rubens - Sim, desde cedo, graças ao citado Padrinho e também à esposa dele, Profª Maria Congeta, que lecionava piano e Canto Orfeônico, fui tomando conhecimento do mundo artístico e cultural e, realmente, me apaixonei pelas suas mais diversas formas e expressões. Em Portugal, em cada cidade em que morei (e foram muitas) de alguma forma, sempre estava ligado à cultura. Cheguei a ter um programa de Rádio, na região do Alentejo (em Moura), sobre orientações para a população, abordando temas sobre Odontologia, com grande audiência e participação da população com perguntas sobre a profissão. Fora isso, participei de alguns Saraus, inclusive no bar/restaurante onde Fernando Pessoa costumava produzir suas belas obras - a mesa continua no mesmo lugar.

Portugal é famoso pela gastronomia, pelos vinhos e pelo fado. Fale um pouco das belezas da terra Portuguesa.

Rubens - Ahhh, é muito difícil sintetizar em poucas linhas a grandeza da terra lusitana. Há uma grande diversidade geral, seja em termos de gastronomia, de cultura, de turismo etc. Mas vou tentar dizer algo que considero mais significativo: Gastronomia - A trilogia pão/vinho/azeite, além de ser a base da comida lusitana, espalhou-se por toda a Europa e também para o mundo. Despontam em 1º lugar, a meu ver, os pratos feitos com bacalhau, uma tradição que justifica a fama, pois são várias as maneiras de prepará-lo (à Braz, com natas, com todos - que contém batatas, grão-de-bico, cebolas, legumes etc. - a lagareiro e por aí vai...);  Para quem gosta - que não é o meu caso - há o leitão à Bairrada - uma região próxima a Coimbra, que leva muitos turistas a viajar para saborear esse prato; - Há as açordas, as migas, o caldo verde, os pães típicos de cada região, enfim, como disse antes, é muito difícil descrever em curto espaço toda a grandeza da gastronomia lusitana.

Quanto aos vinhos e o azeite, igualmente, há uma imensa variedade de tipos e marcas por todo o País, despontando o vinho alentejano (do Alentejo, uma região, como o nome sugere, além do Tejo, o Rio que “divide” o País). É uma região de planícies, ao contrário da região do Norte, como é o caso do vinho do Porto, cujas parreiras são cultivadas nas encostas das montanhas. O azeite também é uma grande referência, mercê de suas oliveiras especiais.

O fado, cuja palavra é oriunda do latim e significa destino, é tido como a música típica de Portugal, com estilo dolente e melancólico, mas pode ser também alegre, contar uma história hilária e, ainda, ser do tipo desafio entre dois cantadores, a chamada “desgarrada”. Há vários tipos, como o fado de Lisboa, o de Coimbra, o do Porto etc., mas todos com a mesma característica: cantado por uma só pessoa, acompanhada de um violão clássico (ou viola, como chamam os portugueses) e a guitarra típica.

Em relação ao turismo, Portugal apresenta uma gama extensa de opções de norte a sul, com temperaturas variáveis e para todos os gostos. Na época de verão, as ruas ficam apinhadas de turistas do mundo todo e que rendem muitos elogios.

Na sua atividade clínica em Portugal, você sofreu algum tipo de preconceito?

Rubens- Bem, cheguei ao País há cerca de 30 anos, quando havia uma grande resistência ao trabalho dos Dentistas brasileiros, mas por parte dos “colegas”, que se sentiam ameaçados, não só pela concorrência profissional, propriamente dita, mas, principalmente devido à nítida competência e a proverbial simpatia brasileiras. A população aceitava e até preferia os profissionais brasileiros, constando até a informação de que o próprio 1º Ministro português, Cavaco Silva, se tratava com um colega nosso, mas nunca pude constatar a veracidade disso... Portanto, preconceito mesmo nunca sofri, ao contrário, havia muita aceitação.

Por que você ao voltar ao Brasil, não escolheu o Rio de Janeiro, e sim, Natal para morar?

Rubens- Ahh, eis mais uma ótima pergunta! Já conhecia Natal e ficou gravada na minha tela mental a beleza da cidade, a temperatura agradável durante todo o ano, com os ventos alísios a amenizar sempre a canícula do verão, o povo hospitaleiro e receptivo, enfim, tudo aquilo que as pessoas precisam para viver bem. Então, depois de 08 anos em terras lusitanas, ao resolver voltar ao nosso País, escolhi morar em Natal, basicamente, para escrever e participar da vida cultural da cidade e de todo o Estado do RN, o que, graças a Deus, tenho conseguido.

Fale do projeto cultural do Conselho Regional de Odontologia “SARAUTERAPIA”, que você dirige há 13 anos e do jornal digital que você edita na Academia de Odontologia do Rio Grande do Norte.

Rubens- Bem, tudo começou em 2004, quando era Presidente do CRO o Amigo Ricardo Sá, e que teve a brilhante ideia de promover um Sarau no aconchegante auditório daquela Autarquia. Na verdade, ele começou com um Luau, na Praia de Ponta Negra, mas acabou não dando certo devido ao fato de ser ao ar livre, sujeito às intempéries e à variação climática. Ele convidou seus pares de Diretoria, mas nenhum se dispôs a assumir essa responsabilidade. Sabedor de que eu gosto da área cultural e artística, e que tenho muita experiência, convidou-me, então logo aceitei e comecei a trabalhar, redundando nessa continuidade, possivelmente recorde, pois já são 13 anos de atividade ininterrupta, das 18 às 21 horas, na 1ª e na 3ª quarta feira de cada mês, independentemente de ser feriado ou dia santo. A frequência é de 30 pessoas, em média, mas muito raramente nossos colegas participam.

Graças à parceria que fizemos com a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN, seus componentes são os responsáveis pelas sempre brilhantes e concorridas apresentações.                      

A Coordenação geral é da Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores (SBDE), da qual estou Presidente em nível nacional, já há 15 anos, sendo sempre reeleito, graças à bondade dos cerca de 100 Titulares de várias cidades do País. A destacar o apoio incondicional de todos os Presidentes do CRO que se sucederam, razão de ser da tão longeva e marcante atividade. A todos eles, representados pelo atual Presidente, Prof. Dr. Gláucio de Morais e Silva, o meu agradecimento, em nome da comunidade que tanto se beneficia dessa dádiva.

Quanto ao jornal mensal digital que elaboro para a Academia Norte-Rio-Grandense de Odontologia (ANRO), como Titular da Cadeira nº 16, exercendo o cargo de Diretor de Divulgação, é uma grande satisfação poder informar os cerca de 80 Acadêmicos sobre as atividades da Instituição, incluindo o maravilhoso Museu, situado no andar superior da sua sede, tido como um dos mais completos do País.

Por oportuno, informo que também elaboro jornal semelhante para os Titulares e Honorários da citada SBDE, já há muitos anos, sempre com grande satisfação, além do Blog criado, igualmente para a ANRO.

Quantos livros você já escreveu? Tem algum lançamento previsto para o momento?

Rubens- Escritos foram 21, mas nem todos editados, na forma de perguntas & respostas, sendo 2 sobre Odontologia, mas direcionados para os pacientes, informando, orientando, sobretudo sobre prevenção das várias doenças bucais. Os demais foram sobre qualidade de vida, começando em Portugal, mas estão todos esgotados, alguns com várias edições, como é o caso do mais recente, “Viver Melhor: É Possível?”, que vai para a 3ª edição.

Estou escrevendo sobre a Vida e a Obra de Luís da Câmara Cascudo, a quem muito admiro. Pena que os brasileiros em geral, incluindo os natalenses, e potiguares em geral, não o conhecem como merece, daí a ideia de mostrar esse brilhantíssimo contributo que o Mestre deixou, uma obra ímpar que precisa ser imensamente divulgada, compreendida, estudada. O Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo, em Natal, onde o Mestre viveu cerca de 40 anos, está aberto à visitação, e recomendo que o façam, valorizando um dos seus mais ilustres e importantes representantes, que recebe muita admiração e grande reconhecimento mundial.

(Entrevista concedida ao Dr. Givaldo Soares da Silva, criador e colaborador do Espaço Remido)

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