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Gagaça, amiga para sempre em qualquer das estações

“Olho, pra você e me pergunto assim: se tudo é tão sincero, por que tem que haver um tempo de se dizer adeus... Amigos para sempre é o que nós iremos ser, na primavera ou em qualquer das estações, nas horas tristes nos momentos de prazer, amigos para sempre...”


A música era uma das coisas que fazia parte da vida de Gagaça. É impossível se pensar nela sem lembrar de uma música. Seja lá em que assunto for.

Na amizade, no amor, na política, na profissão, na religião, enfim, na vida. Eu tive a felicidade de poder desfrutar da amizade dela, e tive também a oportunidade de dizer a ela, o quanto eu a admirava.

Em Marcelino Vieira, junho de 2008, nós tivemos um encontro inesquecível. Na casa de uma grande amiga em comum (Irama de Sabóia), nós falamos para várias pessoas que lá estavam, mas falamos principalmente um para o outro.

Ela me elogiou até mais do que eu merecia, e eu, ofuscado pelo brilho de suas palavras, consegui dentre outras coisas, dizer da importância que ela tinha na vida das pessoas e acima de tudo do exemplo de vida que ela representava.

Seu falar macio, quase cantando; seu jeito meigo, de garota; sua eterna disponibilidade para ouvir; sua capacidade de acolher; sua facilidade de dizer: “meu amigo”. Isso era apenas uma pequena parte do grande ser humano que formava Gagaça.

Amizade para ela significava algo superior a tudo. Muitas vezes até às próprias posições. Deixava de lado alguns princípios, para conservar ou fazer uma amizade. Por isso essa música foi tão significativa: “amigos para sempre”.Uma vez seu amigo, pra sempre será.

Eu poderia citar milhares de compositores da MPB para definir uma ou outra qualidade de Gagaça, porque ela tinha tantas que em qualquer um ela se adequava.

Eu diria que Milton Nascimento, com a sua canção da América, talvez seja o que mais resume o pensamento de amizade expressado por toda sua vida: “Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração”.

Cultivava duas grandes paixões na vida, além dos seus filhos, é claro: O seu Esposo, Xavier, a quem chamava carinhosamente de Garoto. E Francisco Buarque de Holanda. Transpunha qualquer obstáculo para ver Chico cantar.

Sobre Xavier, ela resumiu todo seu sentimento numa entrevista que deu, falando o seguinte: “Não me vejo só, nem dentro de um espaço onde esteja apenas eu e minhas lembranças... Me dei muito bem no casamento e aconselho todo mundo. Amo meu “gordo” de paixão”.

Foi uma relação dessas que a gente costuma dizer que não existe mais.

Há poucos dias, no “beco da lama” em Natal, ela com a felicidade que lhe era peculiar, dançando ao som dos chorinhos e sambas, e ele a contemplá-la, dizia para nós: “ela é a razão da minha vida”.

A você amigo Xavier, os meus parabéns, és um herói. Você foi o responsável pela felicidade de Gagaça, foi você que a completou, foste a outra parte dela, sem você ela seria apenas a metade.

Portanto, por mais doloroso que seja, tenha a certeza de que ela encerrou apenas um ciclo de suas vidas, agora você irá continuar a missão divina. Vamos em frente, conte comigo sempre. Não esqueça nunca da grande canção: “E ainda se vier, noites traiçoeiras, se a cruz pesada for, Cristo estará contigo. O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo”.

Aos filhos, Vitor, Luciana e Rafael. Talvez todos vocês ainda estejam como um barco à deriva. Sem direção, sem rumo, sem respostas, e com uma pergunta sempre a torturá-los: por quê? Por que Mamãe?

Essa resposta talvez só o tempo vos dará, mas eu posso deixar-lhes uma mensagem de conforto. Ela está no capítulo 12 do Evangelho de João: “... se um grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. Quem se apega a sua vida perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conserva-la-a para a vida eterna...”.

Portanto, apesar da queda, precisamos segurar na mão de Deus e seguir. Seguir para que o legado deixado por sua Mãe não se encerre com a sua partida, mas se perpetue para sempre através da vida de todos vocês.

A odontologia brasileira está de luto, perde uma defensora ferrenha de seus fundamentos. Há um ditado popular de que ninguém é insubstituível. Mas eu afirmo, sem medo de errar: Gagaça é insubstituível.

Pode até haver alguém para ocupar o seu lugar, mas jamais haverá alguém capaz de preencher a lacuna por ela deixada. Saint- Exupéry dizia que cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e nenhuma substitui a outra.

E completava dizendo que essa é a mais bela responsabilidade da vida, e a prova de que as almas não se encontram por acaso. Presto nesse momento uma singela homenagem.

A você Gagaça, que por tantas vezes esqueceu sua vida para pensar na Odontologia, muito obrigado. Valeu sua luta, valeu seu trabalho, valeu sua dedicação.

As conquistas que vieram depois de você, com certeza tem a sua marca. Você sonhou o sonho impossível e o viu se realizar. Eu sou testemunha de tudo isso.

Muito obrigado mais uma vez, e que Deus na sua infinidade bondade e misericórdia, te receba e te guarde na morada eterna reservada aos bons. Porque lá, no santuário do Senhor, só entrará quem tem as mãos limpas e o coração puro.

E isso eu sei que você tinha. Um caloroso abraço do eterno baixinho amigo de todas as horas.

Natal, 16 de Dezembro de 2009
Eimar Lopes de Oliveira

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