“A Odontologia é minha alegria e impulso para viver”, afirma cirurgiã-dentista que usa mão biônica para exercer a profissão - Conselho Federal de Odontologia lança a série “CFO Esclarece Trajetórias.”

A partir de agora, o programa CFO Esclarece inicia uma nova fase para também contar grandes histórias dos profissionais da Odontologia; periodicamente, o espaço será usado para relatos de casos inspiradores, que são exemplos de sucesso e determinação
O programa CFO Esclarece, criado pelo Conselho Federal de Odontologia para levar informação e orientação à classe odontológica, inicia uma nova fase com o lançamento da série “CFO Esclarece Trajetórias - histórias de sucesso na Odontologia”. Todas as publicações de caráter orientativo e informativo, incluindo o trabalho de combate às fake news na Odontologia, serão mantidas no CFO Esclarece, sendo a nova série um conteúdo a mais. O espaço será utilizado para divulgação de histórias inspiradoras, de profissionais que superaram desafios para transformar seus sonhos em realidade.
Os textos serão publicados de forma periódica, com relatos sobre os caminhos traçados por cirurgiões-dentistas e demais profissionais da classe odontológica das várias regiões do país. Ao abrir espaço para divulgação dos casos de sucesso, de pessoas comuns com trajetórias profissionais de superação, o Sistema Conselhos de Odontologia contribui para a valorização da classe e motivação dos futuros profissionais.
A primeira história a ser contada pelo “CFO Esclarece Trajetórias” é da cirurgiã-dentista Thaís Nogueira. Após enfrentar um câncer, ela passou pela amputação da parte inferior do braço esquerdo e hoje usa uma mão biônica para continuar fazendo aquilo que mais ama: exercer a Odontologia. Recentemente ela ainda se viu diante de mais um desafio: a notícia do surgimento de um novo tumor, uma metástase no pulmão, que, segundo ela afirmou, não tem chances de cura aos olhos da ciência. Apesar de todas as adversidades, a cirurgiã-dentista continua atendendo e vê na profissão sua grande alegria de viver.
Confira abaixo essa história que é um exemplo inspirador de força e determinação.
Cirurgiã-dentista é exemplo de determinação e amor pela Odontologia
Thaís Nogueira é uma cirurgiã-dentista, de 47 anos, moradora da Baixada Santista, no litoral do estado de São Paulo. Formada há mais de vinte anos, ela conta que desde criança já sabia qual profissão seguiria no futuro. O que não imaginava é que o destino lhe reservaria grandes desafios de saúde, que exigiriam superações diárias para o exercício da Odontologia. Hoje, com uma mão biônica e um câncer em estado avançado, ela é exemplo de determinação e amor pela profissão e pela vida.
A paixão de Thaís pela Odontologia nasceu por volta dos sete anos de idade, enquanto acompanhava sua mãe nas consultas odontológicas e teve a oportunidade de entender como um cirurgião-dentista atuava. O trabalho do profissional lhe motivou, mais tarde, a cursar a graduação. Posteriormente, ela tornou-se especialista em Implantodontia e abriu sua própria clínica.
A descoberta da doença
Era o ano de 2021 quando Thaís começou a perder peso e sentir dores nas costas e pescoço. A princípio, achou que poderia ser por conta de questões de ergonometria do exercício da profissão. Mas, apesar de fazer acompanhamento médico e realizar exames anuais de rotina, foi surpreendida com o diagnóstico de um câncer no colo do útero.
Thaís fez quimioterapia e radioterapia, sendo que durante o tratamento nunca parou de trabalhar. A cirurgiã-dentista ia ao consultório normalmente porque, para ela, a Odontologia era como uma terapia, um momento em que esquecia a doença. Com o fim do tratamento, veio a vitória e a cura do câncer, porém novos obstáculos estavam por vir.
O tratamento oncológico foi muito agressivo e a radioterapia acabou afetando a bexiga. A cirurgiã-dentista desenvolveu uma cistite actínia, quadro clínico que exigiu a realização de uma embolização, que, por sua vez, acabou causando uma necrose. O órgão então precisou ser retirado.
Durante os tratamentos que se seguiram, a cirurgiã-dentista teve um choque séptico e, em seguida, um choque hipovolêmico que a fez entrar em coma. Na UTI, o braço esquerdo, que recebia medicação, desenvolveu trombose, resultando também na formação de necrose. Caso sobrevivesse, família e amigos sabiam que Thaís perderia a mão.
De volta à vida
Desafiando todos os prognósticos, após sete dias, Thaís saiu do coma e despertou. Um verdadeiro milagre para a medicina. Assim que recebeu a notícia sobre a amputação, somente uma preocupação passava em sua mente: “Como eu vou ser uma dentista, sem uma das mãos? Minha carreira acabou”.
Porém, após pesquisar muito, sua mãe descobriu que existiam próteses para casos como o de Thaís. Mesmo assim, a implantodontista teve dúvidas se os pacientes iriam aceitar sua nova condição: “Com fé e coragem, eu decidi seguir em frente com as possibilidades que tinha”, relembra.
Ajuda e solidariedade por todos os lados
Thaís conta que na clínica onde trabalha possui três amigas, Ianca, Michele e Viviana, que são como irmãs para ela e que ao terem conhecimento da amputação, começaram a atender os pacientes com um braço só, simulando atendimentos durante uma semana. Elas fizeram vídeos e mostraram que ela conseguiria voltar a atender. Era possível.
Ainda no hospital, a cirurgiã-dentista recebeu informações sobre a “mão biônica”, que poderia lhe dar mais qualidade de vida e melhores condições de trabalho, mas tinha alto custo. Mais uma vez, Thaís recebeu o apoio de amigos para abertura de uma “vaquinha”. O Conselho Regional de Odontologia (CROSP) juntou-se à campanha, mobilizando colegas de profissão e a mídia de todo estado, de forma que ela conseguiu o valor necessário para a compra da prótese.
Foi assim que Thaís começou a usar o primeiro dispositivo que possibilitava o uso da pinça para realização de implantes. Em seguida, a dentista conseguiu, junto ao convênio médico, a segunda e atual prótese, que movimenta os cinco dedos e permite a manipulação dos protocolos estéticos com cerâmica e zircônia.
Pacientes: alegria e motivação para viver
A cirurgiã-dentista é enfática ao dizer que se tivesse perdido as esperanças, teria parado de exercer a profissão e se tornado apelas administradora da clínica. Porém, o que a motivou a continuar é a sensação gratificante de realizar o atendimento aos pacientes.
De volta ao consultório, Thaís percebeu com alegria que o uso da prótese não afastou os pacientes, pelo contrário, desperta curiosidade e empatia, sendo que muitos querem ser atendidos por ela. “A mão biônica é um quê a mais, é um charme, e todos querem ver como o atendimento acontece. Os pacientes, principalmente as crianças, querem ver a prótese, tocar e tirar foto”, conta.
Além do atendimento aos pacientes, a cirurgiã-dentista relata que uma de suas maiores motivações é poder ajudar outras pessoas. Ela conheceu, por exemplo, uma estudante de Odontologia que nasceu sem a mão e que amarra um espelho no jaleco para conseguir realizar os atendimentos, além de outras pessoas na mesma situação.
“Além disso, eu perdi a bexiga e por usar uma bolsa de urostomia, me tornei embaixadora de uma marca famosa mundialmente. Além de também ajudar os ostomizados. É muito gratificante poder dividir minha história com outras pessoas e inspirá-las a superar seus desafios”, destaca.
A adaptação até a chegada da mão biônica
Embora hoje esteja completamente adaptada à mão biônica, Thaís pontua que o começo foi um período de muito esforço e adaptação. “Quando eu voltei para o consultório, só tinha a vontade e o coto. Eu o enrolava com papel filme, porque não tinha luva adequada. O auxiliar me ajudava quando era necessário apoio da mão que estava amputada”.
Thaís conta ainda que, após conhecer sua história, um engenheiro entrou em contato com ela e, voluntariamente, desenvolveu o primeiro dispositivo que acoplou ao braço. Era uma mão de plástico, que possibilitou que ela segurasse o espelho e realizasse os atendimentos normalmente.
“Quando veio o dispositivo para apoiar o espelho, aí eu voei mesmo. Era o que faltava. A asinha que eu precisava. Eu pensava: ‘se eu consegui com esse dispositivo, que é tão simples e de plástico, quando eu estiver com a mão biônica, ninguém me segura’. Então, treinei incansavelmente por seis meses, suturando língua de boi, atendendo, dispensando apoio da auxiliar para saber até onde poderia ir, para testar meus limites nessa nova realidade”, complementa Thaís.
Quando chegou a mão biônica, veio também um novo desafio para a adaptação. O cérebro precisava enviar um impulso para a mão com a informação do que deveria ser feito. Esse processo de “aprendizagem” exigia atuação constante e isolada de Thaís. Se um auxiliar efetuasse qualquer gesto ou ação para ela, não seria possível mandar a mensagem para o braço realizar o comando e, assim, ela continuaria sempre dependente de alguém.
O esforço e determinação valeram a pena. Hoje a cirurgiã-dentista realiza o atendimento dos pacientes sozinha, do início ao fim. Ela ressalta que aprendeu a achar alegria nas pequenas coisas, como trabalhar e ter saúde. “Descobri que não tinha problemas, até vir o diagnóstico do câncer. Às vezes, diante de um problema grande, a pessoa não vê uma saída, mas com fé e resiliência, tudo se resolve”.
“Nada é impossível”, persevera a cirurgiã-dentista
A luta de Thaís ainda não acabou. Recentemente ela recebeu a notícia, através de um exame de rotina, que está com câncer novamente. “Hoje a gente vai brigar pela qualidade de vida, não vai mais falar em cura. Mas isso não me desanima de forma alguma. Infelizmente, depois de todo esse processo pelo qual passei, o câncer ainda voltou. Ele fez uma metástase no pulmão, nos linfonodos, no peritônio e está por aqui”, complementa.
Thaís conta que agora está se preparando para um novo capítulo de sua trajetória de força: “Vou ficar carequinha, mas vocês vão me ver carequinha no consultório, porque só acaba quando termina. Cura não existe, mas para Deus tudo é possível”, complementa.
A cirurgiã-dentista quer continuar a compartilhar sua história e inspirar outras pessoas. Ela sabe que ainda tem um caminho difícil pela frente, mas tem esperança no avanço da medicina e quer continuar trabalhando.
“Eu sento no mocho, e ao abrir a porta e chamar o paciente, eu falo, ‘meu Deus, que milagre eu estar aqui’. É um milagre. E agradeço por mais um dia, por mais um dia de trabalho e por ter me dado a força de poder atender meus pacientes com maestria, apesar de faltar um instrumento de trabalho”, finaliza.
A história de superação da cirurgiã-dentista Thaís Nogueira já foi tema de diversas matérias da mídia. Confira abaixo algumas delas:
UOL
g1
Revista Marie Claire
Terra
A Tribuna