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CFO Esclarece – Entenda como os cigarros eletrônicos podem afetar a saúde bucal

CFO Esclarece – Entenda como os cigarros eletrônicos podem afetar a saúde bucal

O uso dos dispositivos está associado a alterações na saliva, gengivas e dentes; Sistema Conselhos de Odontologia orienta a população a não utilizar os chamados vapes

O uso dos chamados cigarros eletrônicos, ou vapes, como são popularmente conhecidos, tem aumentado consideravelmente entre a população jovem de todo o mundo. No Brasil, essa tendência também pode ser observada. Por esse motivo, o Sistema Conselhos de Odontologia, composto pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e os 27 Conselhos Regionais de todo país, faz um alerta sobre os impactos negativos do uso dos cigarros eletrônicos à saúde, principalmente à saúde bucal.

Dados epidemiológicos revelam que cerca de ¼ dos adolescentes em idade escolar no Brasil já utilizaram o cigarro eletrônico, enquanto na população adulta - acima de 18 anos, a prevalência também é preocupante e gira em torno de 20%. De acordo com o instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), entre 2018 e 2023, o uso desses dispositivos cresceu cerca de 600% no país.

O dado é alarmante, principalmente pelo fato de os cigarros eletrônicos possuírem efeitos nocivos, incluindo consequências para a cavidade bucal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado sobre os impactos desses dispositivos na saúde da população mundial, principalmente devido ao fato de conterem alta dosagem de nicotina em sua composição.

“O Conselho Federal de Odontologia e os Conselhos Regionais também estão atentos a essa questão. Por esse motivo, convidamos aos cirurgiões-dentistas de todo país para que, de forma constante, falem com seus pacientes sobre os riscos do cigarro eletrônico para a saúde bucal e nos ajudem a levar adiante a mensagem de que eles precisam ser evitados e combatidos. Informação e esclarecimento são importantes ferramentas de saúde”, destaca o vice-presidente do CFO, Nazareno Ávila.

Os efeitos do cigarro eletrônico para a saúde da boca

O uso dos cigarros eletrônicos está associado a um aumento significativo no acúmulo de placa dental, responsável por desencadear inúmeras doenças orais e inflamações em geral. Também pode causar o agravamento de complicações em enfermidades bucais já existentes, entre elas, a doença periodontal; além de potencialmente prejudicar o alcance de bons resultados nos tratamentos dessa condição.

O cirurgião-dentista, especialista, mestre e doutor em Clínica Odontológica e professor universitário, João Gabriel S. Souza, explica ainda que o uso dos cigarros eletrônicos também pode causar alterações na composição das bactérias presentes na boca, favorecendo a formação de uma flora bacteriana mais agressiva e associada a doenças orais.

“Outra preocupação frequente em relação ao uso dos vapes diz respeito aos seus efeitos sobre os tecidos bucais. Já foi comprovado que o cigarro eletrônico pode provocar alterações na morfologia celular, causar toxicidade e até mesmo necrose — um alerta que tem ganhado cada vez mais atenção na literatura científica”, afirma o cirurgião-dentista e professor.

Além disso, há relatos de acidentes com os dispositivos, que podem provocar ferimentos nos usuários. Os casos envolvem explosões, que podem resultar em lesões na face, na cavidade bucal e até em fraturas dentárias.

Impactos na saliva, incidência de cárie e amarelamento dos dentes

Entre os efeitos colaterais do uso dos cigarros eletrônicos estão as alterações na produção da saliva, que pode sofrer alterações no pH e ter a composição química alterada pelas substâncias presentes nesses dispositivos.

“Existem também, na literatura científica, resultados indicando uma associação entre o uso do cigarro eletrônico e uma maior ocorrência de cárie, o que pode ser decorrente das alterações na saliva e maior acúmulo de placa. A saliva é fundamental para a manutenção da higiene bucal, sendo que alterações na mesma, especialmente se associada a maus hábitos de escovação oral, podem acarretar maior índice de cárie e risco de infecções”, pontua o cirurgião-dentista João Gabriel Souza.

O amarelamento dos dentes também está entre os impactos dos vapes para a saúde bucal dos pacientes. As manchas são provocadas por substâncias químicas presentes no cigarro eletrônico, entre elas a nicotina, corantes e outros aditivos. Essas substâncias aderem à superfície dental, conferindo ao dente a tonalidade amarela ou marrom.

Câncer de Boca

O CFO esclarece que não há, até o momento, estudos científicos robustos que façam a relação direta entre o uso dos vapes e o câncer de boca. Apesar disso, os cigarros eletrônicos podem ser considerados um risco potencial para o desenvolvimento de lesões malignas.

“Esses dispositivos, relativamente novos, possuem diversas substâncias químicas que agridem a saúde, incluindo a mucosa bucal que é muito fina e delicada. Dessa forma, acredita-se que, potencialmente, eles possam ser mais um fator de risco para o câncer de boca, que afeta cerca de 15 mil brasileiros todos os anos”, pontua o vice-presidente do CFO, Nazareno Ávila.

A Odontologia no combate ao vape

Considerando os impactos dos cigarros eletrônicos na saúde oral e sistêmica, o cirurgião-dentista tem um papel altamente relevante, dentro do contexto de um atendimento multidisciplinar, no enfrentamento desse que pode ser considerado um problema de saúde pública. Além de ações de orientação aos pacientes, o profissional também atua no tratamento das complicações causadas nas bocas dos pacientes.

“Em razão do aumento do uso dos cigarros eletrônicos e dos seus efeitos nocivos na cavidade bucal, o cirurgião-dentista é um profissional fundamental na orientação para a prevenção e tratamento dessa população, que tem se tornado cada vez mais presente na rotina clínica. Por isso, a importância de se evitar o cigarro, seja ele eletrônico ou não, e de bons hábitos de saúde bucal, o que inclui visitas periódicas aos consultórios odontológicos”, ressalta Nazareno Ávila.

Para saber mais sobre o tema, acesse:

REFERÊNCIAS

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