CFO Esclarece: Conheça a história das escovas de dentes

Registros históricos sobre a evolução do artefato revelam como surgiram e se popularizaram os hábitos de higiene
As escovas de dentes surgiram a partir da necessidade sentida, nos primórdios das civilizações, de realização da limpeza da cavidade bucal. Dessa forma, a história desse artefato revela muito também sobre o início dos hábitos de higienização oral da humanidade. Por esse motivo, o programa CFO Esclarece traçou uma linha do tempo sobre a história das escovas de dentes.
“Odontologia e Saúde Bucal são termos que surgiram na história recente da humanidade, mas é muito interessante observar que os homens já manifestavam preocupação com a limpeza dos dentes há milhares de anos. Por esse motivo, entender a história da escova de dentes também é entender como evoluíram as rotinas de higiene bucal ao longo do tempo”, destaca o vice-presidente do Conselho Federal de Odontologia, Nazareno Ávila.
As primeiras “escovas de dentes” surgiram por volta de 3.000 a.C., na Babilônia. Elas eram feitas de ramas, gravetos e raízes que tinham as pontas mascadas, descascadas e desfiadas, em um formato semelhante às atuais escovas unitufo. Com esse instrumento, mais comumente feito de rama de Salvadora Pérsica e chamado de Miswak, as pessoas faziam a escovação dente por dente.
“Essas raízes possuíam filamentos que, ao serem umedecidos, funcionavam como cerdas de aspecto macio. É algo muito interessante de se ver. E até hoje é possível encontrar réplicas dessas escovas à venda na Internet porque elas fazem parte da história da Odontologia e representam o início da preocupação humana com a higiene e a saúde bucais”, explica o cirurgião-dentista Dr. Camillo Anauate Netto, professor universitário e Doutor em Odontologia pela USP (Universidade São Paulo).
A história da escova de dentes chega a um próximo capítulo importante por volta do ano de 1500, quando os chineses fabricaram as primeiras unidades já com formato semelhante ao produtos usados nos tempos atuais. Elas tinham cabos de madeira e cerdas feitas com pelos de porcos ou fibras vegetais, amarrados com fios de bambu. Posteriormente, os próprios chineses substituíram os pelos de porcos por crinas de cavalo, que eram mais macias. E assim, as escovas se popularizaram, havendo registros de diferentes modelos de cabos em todo o mundo.
Registros históricos de escovas de dentes usadas ao redor do globo também mostram que havia diferenças nos materiais utilizados, de acordo com as classes sociais. A nobreza usava modelos mais caros, cujos cabos eram esculpidos por artistas e produzidos com materiais nobres, como madeira de lei, madrepérola, prata e outros metais.
Posteriormente, por volta de 1780, o britânico William Addis criou a primeira versão da escova de dentes moderna. Em meio à revolução industrial, ele passou a produzir e comercializar o produto em larga escala. Nesta época, os produtos ainda eram feitos com cabos de madeira e cerdas de origem animal, sendo os pelos de javali amplamente utilizados em vários locais do mundo.
Com o advento do nylon e do plástico, após a Segunda Guerra Mundial, chegou-se ao formato atual das escovas de dentes. Depois disso, com o passar das décadas, os modelos foram modernizados e aperfeiçoados, sendo que, na atualidade, há uma enorme variedade de escovas de dentes, com diferentes funções e tecnologias.
“Incrivelmente, um médico e não um dentista, Charles Cassidy Bass criou em 1948 o protótipo das escovas dentais que se utilizam hoje, com cabeça pequena e cerdas macias de alta densidade. Ele desenvolveu também a técnica de escovação indicada até hoje, a chamada Técnica de Bass”, complementa o cirurgião-dentista Camillo Anauate Netto.
As escovas de dentes no Brasil
As escovas de dentes só foram produzidas no Brasil em 1960, sendo que antes disso os produtos tinham que ser importados. Nesta época, as escovas mais populares no país tinham pouca qualidade, com cerdas médias ou duras. Desta forma, a produção nacional, que é muito recente, pode ser considerada um ganho importante para a rotina de higienização bucal dos brasileiros.
“Entre as décadas de 50 e 70, o Brasil teve avanços significativos no que se refere à valorização da Odontologia e das políticas públicas de Saúde Bucal. Entre as conquistas desse período, podemos citar o início da fluoretação das águas e a criação do Conselho Federal de Odontologia. E a produção nacional de escovas de dentes chegou ao país dentro desse contexto”, pontua o vice-presidente do CFO, Nazareno Ávila.
Importância histórica
O cirurgião-dentista Camillo Anauate Netto destaca a importância dos registros históricos sobre as primeiras escovas de dentes. "Para termos uma ideia, a primeira faculdade de Odontologia do mundo foi o Baltimore College of Dental Surgery, fundada em 1840 nos Estados Unidos. Ou seja, antes disso, a Odontologia não existia como ciência, era tudo empírico. Mas há milhares de anos, as pessoas já demonstravam interesse pela higiene bucal e saúde dos dentes. Hoje sabe-se que a desorganização mecânica do biofilme ou placa bacteriana é o principal método de se manter a saúde oral, tendo como coadjuvante o creme dental. Então essa é uma história que todo cirurgião-dentista deve conhecer”, pontua.
Anauate relata ainda que, apenas na década de 1970, com a criação da Academia Brasileira de Periodontia, é que os cirurgiões-dentistas começaram a orientar seus pacientes para que fizessem a escovação dos dentes pelo menos três vezes ao dia. “Essa recomendação veio a partir das evidências científicas a respeito da placa bacteriana. Antes, as pessoas achavam que a deterioração dos dentes era consequência natural do envelhecimento. Hoje, felizmente, as escovas e os hábitos de higiene oral fazem parte do nosso cotidiano”, conclui.