Notícias

  1. CRO RN
  2. Notícias

Operação Sorriso Mossoró vai retornar à cidade em mais três novas missões até 2019

Operação Sorriso Mossoró vai retornar à cidade em mais três novas missões até 2019
A Operação Sorriso Mossoró fez cirurgias em 53 pessoas, entre crianças e adultos

Depois do sucesso da Operação Sorriso em Mossoró, realizada no período de 4 a 7 de agosto, quando foram realizados 68 procedimentos cirúrgicos em 53 pessoas atendidas de um total de 104 que passaram na triagem, a diretora executiva organização não governamental de ajuda humanitária para o Brasil, Ana Stabel, anunciou ainda no primeiro dia do mutirão que a missão estará de volta à cidade nos próximos três anos, ou seja, até 2019.

Todas as cirurgias realizadas em crianças e adultos no Hospital Wilson Rosado, parceiro da Operação Sorriso, foram grátis, ou seja, sem custo para as famílias. Em média, uma cirurgia de lábio ou palato pode variar de preço, entre R$ 10 mil e 20 mil com profissionais em clinicas privadas.

Mas segundo uma mãe de Mossoró, que levou sua filha para cirurgia corretiva de palato, que ganhou na Justiça uma ação obrigando o Sistema Único de Saúde (SUS) a custeá-la, o valor do orçamento fornecido por clínicas particulares, envolvendo também a área ortodôntica, chegou a mais de R$ 70 mil.

Segundo Ana, graças a parceria com a empresa Voltalia, de energia eólica, e com o hospital Wilson Rosado, a missão vai estar em Mossoró realizando as cirurgias de lábio leporino e palato (fissuras labiopalatais) em 2017, 2018 e 2019. “Estas cirurgias são de graça, os pais não pagam nada”, afirma.

“Nos próximos anos estaremos aqui em Mossoró atendendo mais criança, devolvendo o sorriso para mais gente e colocando estas pessoas no trilho de uma vida normal”, disse Ana.

A Operação Sorriso é uma organização humanitária na área de saúde que surgiu nos Estados Unidos em 1982 e reúne profissionais de 60 países para ajudar pessoas portadoras de deformidades faciais, principalmente crianças com fissuras lábiopalatinas.

No Brasil, as ações começaram em 1997 e já foram realizadas mais de 4.700 cirurgias e 91 mil exames e avaliações especializadas em 13 estados brasileiros.

No Rio Grande do Norte, a última vez que a missão esteve foi em Natal, em 2006.

Para realizar as cirurgias de fissuras no lábio e palato (céu da boca), a Operação Sorriso Mossoró contou com uma equipe de 60 pessoas, entre médicos, cirurgiões plásticos, anestesistas, dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, enfermeiros, geneticista, além de outros voluntários de apoio.

O PAPEL DA ODONTOLOGIA NA REABILITAÇÃO ORAL DOS FISSURADOS

A cirurgiã-dentista Daniela Bueno, cientista e odontopediatra do Hospital Municipal Menino Jesus, de São Paulo, que faz parte da equipe de odontologia da Operação Sorriso, destacou que a reabilitação de uma pessoa fissurada começa com a cirurgia para fechar o lábio ou palato, mas o tratamento todo leva anos, até a fase adulta do paciente, com a odontologia tendo uma participação de destaque na reabilitação do paciente.

Ao lado dos cirurgiões dentistas Débora Yassuda, de Niterói (RJ), e Marcelo Damian, de Santa Catarina, a doutora Daniela examinou muitas crianças, tendo selecionado quatro para extração de dentes de leite para pesquisas com células-tronco. Ela desenvolve pesquisas nessa área no Hospital Sírio Libanês, de São Paulo.

“A Odontologia tem um papel importante para reabilitar os pacientes com fissuras labiopalatais”, destaca a cientista.

“São muitas crianças precisando da reabilitação e a odontologia tem um papel extremamente importante para reabilitar estes indivíduos. Então,  é muito importante que os dentistas se envolvam nesses programas de reabilitação”, afirma Daniela Bueno..

Ela lembra que no Brasil nasce uma criança com fissura para 600 nascimentos, enquanto no mundo nasce uma para mil nascimentos.

Segundo Daniela, é muito importante que depois das primeiras cirurgias de lábio e palato os municípios de origem dessas crianças atendidas pela Operação Sorriso possam desenvolver programas de atenção continuada. “Não só em Mossoró, mas em todo o Estado deve-se promover este atendimento com o cirurgião-dentista”, diz ela.

A cirurgiã-dentista Débora Yassuda, ortodontista, chama a atenção para que os profissionais se capacitem para atender estas crianças que ao longo dos anos vão necessitar de um atendimento especializado de um ortodontista capacitado para atender estes pacientes em processo de reabilitação.

A diretora Executiva da Operação Sorriso explicou que em Mossoró foi feita uma parceria com a secretaria Municipal de Saúde para que as pessoas residentes na cidade e os outros pacientes de fora do município possam receber o tratamento que precisam de odontologia e fonoaudiologia depois das cirurgias. Segundo Stabel, os municípios vizinhos que têm pactuação com a secretaria de Saúde de Mossoró poderão enviar seus pacientes para atendimentos naquelas duas áreas.

“Isto é muito importante para ninguém vai ficar na mão. A gente fez esta parceria justamente para que possamos treinar estes profissionais e eles possam oferecer um atendimento de qualidade”, explicou a diretora.

Tendo acompanhado tudo de perto as fases de triagem e cirurgias em Mossoró, Ana Stabel confessa que fica muito emocionada ao ver as crianças saindo das cirurgias e indo para os braços dos pais. 

“Você faz a triagem e vê todas aquelas crianças que precisam tanto  e os adultos que não tiveram acesso, e você está aqui oferecendo  isso. Você acompanha o tempo todo, vê elas recebendo alta e com o sorriso já reconstituído, podendo voltar a ter uma vida normal, nossa, essa é a maior gratificação”, destaca Ana Stabel.

“Depois vê o sorriso da mãe quando ela pega esta criança, e a gente vê nos olhos delas que ela percebe que esta criança volta a ter um futuro e aquele adulto não vai mais sofrer discriminação, não tem preço”, conclui a diretora Executiva da Operação Sorriso.

Integrantes da coordenação de Saúde Bucal da secretaria Municipal de Saúde de Mossoró, os cirurgiões-dentistas Clecivânia Holanda Mariano e Juney Canuto participaram da Operação Sorriso.

Clecivânia deu apoio logístico para a equipe de cirurgiões-dentistas da ONG e Juney realizou atendimentos aos pacientes que necessitavam de procedimentos odontológicos antes das cirurgias, como limpezas e restaurações, num consultório móvel da prefeitura colocado em frente ao Centro Clínico Prof. Vingt Un Rosado, local da triagem.  

 

NÚMEROS DA OPERAÇÃO SORRISO EM MOSSORÓ

 04 pessoas atendidas na triagem

936 consultas realizadas

53 pessoas operadas

68 procedimentos cirúrgicos

O número de procedimentos cirúrgicos difere do número de pacientes operados porque um mesmo paciente pode receber mais de uma intervenção cirúrgica. Exemplo: um paciente pode fechar a fenda labial e ao mesmo tempo receber um reparo no nariz.

A ESTÓRIA DE LUÍS DAVI

Este jornalista, a convite da Operação Sorriso, acompanhou a Missão em Mossoró, desde o primeiro dia de triagem, que aconteceu durante a quinta-feira, 4,   até o domingo, dia 7, último dia das cirurgias, que foram realizadas no período de 5 a 7 de agosto.

No dia da triagem, no Centro Clínico Prof. Vingt Un Rosado, na rua Afonso Pena, 152 – Bairro Bom Jardim, no antigo PAM , encontrei um rapaz magro, de barba, com o filho no colo, que chamava atenção de todos. A criança, de três anos, não tinha os membros superiores e ainda apresentava as fissuras de lábio e palato.

Luis Davi era o menino que nascera com a deformação nos membros superiores e a anomalia labiopalatal. O pai Luis Paulo, pastor, morador de Alexandria, contou que desde que o filho nasceu com as fissuras corre atrás de médicos no Rio Grande do Norte para a reabilitação, mas nunca consegui nenhum encaminhamento para as cirurgias.

Infelizmente, no Rio Grande do Norte, os governantes nunca fizeram nada para criar um Centro de Reabilitação de Fissurados, preferindo encaminhar os pacientes para Tratamento Fora de Domicílio, financiado pelo Sistema Único de Saúde), em cidades como Bauru (São Paulo) e Recife (PE). Mas as vagas para cirurgias são poucas e a demanda é grande, existindo fila de espera.

Durante a triagem ouvi muitas estórias de pais e mesmo dos pacientes, alguns já adultos, que nunca tiveram a oportunidade de fazer nenhuma cirurgia, nem a básica para fechar o lábio leporino.

Passando necessidades, sem trabalho, recebendo a alimentação na igreja aonde é pastor, Luis Paulo não teve dúvidas em pedir ajuda de familiares para poder ir a Mossoró para levar o filho para a triagem da Operação Sorriso. Depois de todos os exames, o menino foi selecionado para fazer a primeira cirurgia, a do lábio leporino, na sexta-feira.

O menino foi para a sala de cirurgia no período da manhã, enquanto o pai ficou no alojamento da Operação Sorriso destinado aos familiares dos pacientes, que foi cedido pela Policia Militar.

Este jornalista ao visitar o alojamento, por volta das 15 horas, no primeiro dia das cirurgias, encontrou o pai de Davi ajoelhado, orando pelo filho que já tinha sido operado, mas estava na sala de recuperação.

Numa cena comovente, Luis Paulo orava pelo filho, enquanto lá no hospital, ao acordar, o menino chamou pelo pai. A mãe, Albanete, que se encontrava com o menino no hospital, chamou o marido pelo celular, pedindo que fosse até lá, porque o filho acordara chamando por ele.

Como o pai não tinha carro para levá-lo ao hospital, eu resolvi levá-lo até o hospital Wilson Rosado com o meu carro. Ao chegar no 3ª.  andar, onde era o apartamento que Luis Davi dividia com outras duas crianças, o pai emocionado apressou os passos para ver o filho.

O menino, ainda deitado, ao ver o pai, se acalmou. Os dois se olharam e Luis Paulo chorou de alegria ao ver o filho com a pequena cicatriz da cirurgia no lábio. A luta dele para ver o filho reabilitado das fissuras labiopalatinas começou há três anos e pela frente outras cirurgias ainda virão, mas este pai merece todas as medalhas, de ouro, prata e bronze.

(Paulo Francisco - Assessor de Imprensa do CRO-RN, convidado da Operação Sorriso Mossoró)

Outras Notícias